6 de junho de 2025

Irmã de vítima de feminicídio leva espetáculo premiado ao Teatro Prosa

No dia 25 de janeiro de 2020, Maria Glória Poltronieri, a Magó, decidiu fazer algo que fazia parte da sua alma livre: acampar sozinha perto de uma cachoeira, numa chácara nos arredores de Maringá (PR). Bailarina, capoeirista e mulher em plena sintonia com a natureza, ela desceu até a água no fim da tarde e não voltou.

Na manhã seguinte, foi a irmã, Ana Clara, quem encontrou o corpo de Magó. Violentado, estrangulado. O que era para ser um fim de semana de reencontro consigo mesma terminou em tragédia. Um feminicídio brutal que comoveu muita gente. Manifestações em repúdio aconteceram em pelo menos 17 cidades, da América Latina à Europa. Mas o grito de dor mais profundo virou outra coisa: virou dança.

É esse grito que chega a Campo Grande nesta terça-feira (23), com o espetáculo “Amana”, no palco do Sesc Teatro Prosa. Uma obra que faz lembrar que a violência contra a mulher ainda é uma ferida aberta, mas também um ponto de partida para resistência, denúncia e transformação.

Criado por Ana Clara Poltronieri, irmã de Magó, “Amana” é uma decisão de Ana Clara, que escolheu transformar o luto em algo que pudesse ser compartilhado, sentido e compreendido, para que nenhuma mulher precise morrer para ser lembrada.

Para dar corpo ao projeto, Ana convidou Tânia Farias, da tribo de atuadores Öi Nóiz Aqui Traveiz, de Porto Alegre. A união das duas criou um espetáculo híbrido, que cruza dança, teatro, performance e artes visuais. O cenário, composto por mais de 70 potes de vidro com água e luzes, já rendeu a “Amana” o Prêmio de Cultura Arquitetônica do Instituto dos Arquitetos do Paraná.

 

Espetáculo é híbrido, cruzando dança, teatro, performance e artes visuais. (Foto: Heitor Marcondes)

Desde a estreia, em maio de 2023, no Teatro Reviver Magó, batizado em homenagem à artista assassinada, a obra vem tocando o coração de plateias pelo Brasil e pelo mundo. Já ou por São Paulo, Maringá, Bolonha (Itália), sempre com ingressos esgotados.

A escolha de Campo Grande para a circulação nacional do espetáculo, viabilizada pelo edital Bolsa Funarte de Dança Klauss Vianna, não é por acaso. Mato Grosso do Sul segue entre os estados com maiores índices de feminicídio no país. Assim como Rondônia, outro destino da turnê.

Na cena, a água representa os corpos femininos. A memória que escorre, a dor que ainda pulsa, o amor que se recusa a desaparecer. É também uma maneira de lembrar que, atrás de cada número, há uma história, um nome, uma irmã.

Magó atuou em companhias importantes como a Carne Agonizante, de Sandro Borelli, e o Núcleo Improvisação em Contato, de Ricardo Neves. Trabalhou com nomes como Nita Little, Bruno Caverna, Vanessa Macedo e Victor Abreu. Fundou, com Ana Clara, a Cia Duo Due — referência em pesquisa de improviso e dança contemporânea.

Hoje, é o corpo da irmã quem dança por ela. Em janeiro deste ano, Ana Clara foi reconhecida como Melhor Intérprete no Prêmio Denilto Gomes de Dança, da Cooperativa Paulista. Mas o que mais importa em “Amana” não são os prêmios, é o que ela desperta.

Se você estiver em Campo Grande nesta quarta-feira (23), vá ao Sesc Teatro Prosa. A entrada é gratuita, mas sujeita a lotação. Reserve o ingresso aqui.

Redação: Impacto Dakila – Mirtes Ramos

Fonte: Campo Grande News

Foto: Renato Domingos

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