Peabiru Ressurge: O Chamado da Terra Ancestral
Série documental de Dakila estreia com imagens inéditas, descobertas surpreendentes e uma nova narrativa sobre o legado milenar que cruzava continentes
Na noite de 21 de maio, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, uma estreia imponente marcou o início de uma nova era no resgate da história mundial. A série documental Caminho do Peabiru – o legado que o tempo escondeu foi apresentada pela primeira vez ao público em uma exibição que uniu emoção, ciência e mistério. Produzida pelo Ecossistema Dakila em parceria com o projeto Brasil Primitivo, a obra representa um divisor de águas na maneira como se compreende a presença de civilizações antigas no território brasileiro e além dele.
O documentário traz à tona imagens inéditas, vestígios arqueológicos impressionantes e registros nunca antes divulgados sobre a milenar rota do Peabiru — um caminho ancestral que conectava o oceano Atlântico às cordilheiras andinas e que, segundo estudos, pode ter se estendido até regiões da Europa e do Oriente Médio. Em junho, a série será exibida em TV aberta e ará a integrar o catálogo de uma das maiores plataformas de streaming com representação no Brasil, levando seu conteúdo para os quatro cantos do planeta.
A série é resultado de três décadas de pesquisa de campo conduzidas por Dakila, com uso de tecnologia avançada como LiDAR, GPR e drones para varredura de solo sem escavações. As gravações ocorreram em regiões remotas de Santa Catarina, em áreas de vegetação densa e montanhas praticamente iníveis. Muitas cenas só foram possíveis com apoio de helicópteros. Locais como Campos do Quiriri e Garuva foram explorados em detalhes, revelando estruturas de pedra, geoglifos, artefatos de cerâmica e metais que apontam para a existência de antigas civilizações que cruzavam o continente por esse enigmático caminho.
A primeira temporada concentra-se em Santa Catarina, mas novas regiões já estão em pauta. Segundo Urandir Fernandes de Oliveira, fundador e presidente do Ecossistema Dakila, a série já nasce com um compromisso contínuo de desbravar e compartilhar: “Queremos mostrar o que muitos tentam esconder. Encontramos artefatos de metais, esqueletos gigantes e vestígios que mudam o que se sabia até então. Mas ainda há resistência. Parte do sistema acadêmico bloqueia esse avanço porque rompe com paradigmas. Só que chegou a hora. A história do Brasil precisa ser reescrita com base na verdade que a terra revela.”
Beatriz Cerino, diretora executiva e roteirista da série, afirmou que o maior desafio foi condensar em quatro episódios os inúmeros achados e os dados históricos de décadas de investigações. “Não é apenas uma série documental. É uma abertura de consciência. Queríamos uma linguagem ível, mas profunda. Um conteúdo que pudesse tocar desde o pesquisador acadêmico até o estudante do ensino médio. Questionamos, mostramos e provocamos a reflexão sobre a origem da civilização nas Américas.”
Legado em ruínas
O Peabiru foi conhecido por muitos nomes: Caminho dos Jesuítas, Caminho das Tropas, Estrada dos Incas, Caminho do Imperador. Os significados atribuídos ao nome são igualmente diversos e simbólicos. Algumas culturas indígenas o chamavam de “caminho que leva ao céu”, outras de “trilha da terra sem mal” ou “estrada para o centro da terra”. Essa multiplicidade de interpretações revela o poder simbólico da rota.
Estima-se que o caminho tenha entre três e doze mil anos e atravessava boa parte da América do Sul, conectando territórios que hoje pertencem ao Brasil, Paraguai, Bolívia e Peru. Evidências indicam, no entanto, que a rede de trilhas teria conexões ainda mais longínquas, alcançando Espanha, França, Líbano e até a Turquia. No Brasil, os trechos mais preservados encontram-se em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e na Amazônia. Muitos desses locais ainda guardam pedras de revestimento originais, marcas e símbolos que ajudam a reconstruir o enigma do Peabiru.
“A história contada por conquistadores nunca é completa. A verdadeira história precisa incluir o ponto de vista dos povos originários. E precisa ser contada com o coração aberto”, destacou André Rockenbach, fundador da Brasil Primitivo. “Entrei nessa série como pesquisador de campo e acabei colocando minha alma no projeto. Estamos levando ao mundo uma história que estava enterrada. E ela pode transformar nossa identidade enquanto povo e enquanto nação.”
Uma experiência sensorial, científica e ancestral
A série Caminho do Peabiru – o legado que o tempo escondeu é, antes de tudo, uma experiência sensorial. O espectador é conduzido por trilhas densas, sobe montanhas, observa o voo dos drones e os mapas gerados por escaneamento. É levado ao interior da mata, onde surgem símbolos gravados em pedras, restos de cerâmica, marcações geométricas perfeitas. Tudo isso entrelaçado com narrações e depoimentos que explicam o impacto dessas descobertas para a história do Brasil e da humanidade.
Mas o documentário vai além da arqueologia. O projeto está enraizado em um conceito profundo de consciência coletiva. Esse princípio, estudado há décadas pela organização, propõe que os seres humanos estão interligados por uma espécie de campo comum de conhecimento e percepção, capaz de influenciar decisões e despertar novos caminhos para a sociedade. “O que uniu todos nós nesse projeto foi esse chamado do consciente coletivo. É algo que ultraa o racional e toca o sentido da missão”, salientaram os produtores ao divulgarem esse projeto.
Durante as gravações, os pesquisadores também foram surpreendidos por fenômenos e percepções que desafiam os métodos convencionais da ciência. “Todo lugar que visitamos carrega uma energia ancestral. Há uma força que se revela. E esse caminho pode ser a chave para muitas outras histórias ainda não contadas”, destacou André Rockenbach.
Expansão e impacto global
Com a estreia da série, Dakila inaugura também sua nova plataforma de comunicação, a TV do Ecossistema, que terá conteúdos voltados à divulgação científica, histórica e educacional. A intenção é ampliar o o às informações descobertas nas pesquisas e promover o turismo científico, ecológico e cultural e o compromisso com a verdade acima de tudo.
A próxima temporada do documentário já está sendo planejada e deverá focar nos trechos do caminho localizados no Mato Grosso do Sul, onde está a sede da instituição. Há também novas parcerias sendo articuladas com órgãos governamentais e educacionais. Em 2024, Dakila firmou um acordo de cooperação técnica com o governo do Estado de São Paulo, visando apoiar as pesquisas e ampliar a disseminação de informações sobre a rota.
“O Caminho do Peabiru pode ser um propulsor de desenvolvimento sustentável. A partir dele, podemos gerar emprego, renda e fortalecer o turismo de base comunitária. É uma trilha viva, que conecta ado, presente e futuro”, afirmou Urandir.
O reencontro com nossas raízes
O documentário é um chamado. Não apenas ao conhecimento, mas ao sentimento. Ele convida o espectador a enxergar além dos mapas escolares, além das datas convencionais, além das histórias impostas. Reúne ciência, tecnologia, ancestralidade e coragem. E resgata o direito do Brasil de ser reconhecido como berço de culturas milenares e guardião de um patrimônio que ainda pulsa sob os nossos pés.
Dakila fez muito mais do que produzir uma série. Apresentou um novo olhar sobre o mundo. Um olhar que parte do Brasil profundo e se projeta para o universo. Um olhar que não se cala diante do ocultamento. Que reivindica a memória e a coloca no centro da construção do amanhã.
O Caminho do Peabiru não está morto. Ele está sendo redescoberto. E com ele, ressurge a própria alma de uma história que, enfim, começa a ser contada como deve ser. Porque há caminhos que o tempo não apaga. Ele apenas os esconde. Até que alguém tenha coragem de reencontrá-los.
Redação: Impacto Dakila – Mirtes Ramos
Fonte: Jornal do Brás
Foto: Divulgação